crédito: Ninha Morandini / Flickr

O acesso ao ensino superior

Sempre estudei em escola pública da periferia, do ensino fundamental até o ensino médio. Em cada um desses anos sempre tive alguma matéria que faltava professor. Quando você é criança até comemora, sem saber que um dia no futuro essas aulas perdidas farão muita falta. Nunca gostei muito de matemática, física e química, estudava o […]

Por Redação

03|02|2015

Alterado em 03|02|2015

Sempre estudei em escola pública da periferia, do ensino fundamental até o ensino médio. Em cada um desses anos sempre tive alguma matéria que faltava professor. Quando você é criança até comemora, sem saber que um dia no futuro essas aulas perdidas farão muita falta. Nunca gostei muito de matemática, física e química, estudava o suficiente para passar com nota azul.
Enquanto eu estava na escola pública eu achava normal não termos incentivo para faculdade ou escola técnica. Na época não havia bolsas federais como hoje em dia. O máximo que vinham oferecer na escola eram cursos de datilografia, informática, como se nós não tivéssemos direito de sonhar mais alto, de escolher o queríamos ser quando a gente crescesse. E que isso bastava para o tipo de emprego que estaria reservado para nós moradores de periferia.

Image

Enfrentamos preconceitos por sermos bolsistas.


Terminei o colegial em 2000. E a faculdade de jornalismo que eu gostaria de cursar parecia um sonho muito distante. Trabalhava como operadora de caixa. Paguei um curso de informática. Em 2003, três anos depois de concluir o ensino médio, eu tinha 20 anos e decidi pagar um cursinho pré-vestibular popular localizado no centro da cidade.
No primeiro mês de cursinho recebi uma mala direta de uma faculdade falando de um programa de bolsas de estudo integrais oferecido pelo governo do Estado de São Paulo, chamado Programa Escola da Família. Em troca da bolsa eram exigidas 20 horas de trabalho voluntário semanal numa escola estadual próxima à minha residência.
Como nunca tinha visto nenhuma iniciativa assim antes, fui saber os detalhes na faculdade que enviou a mala direta. Ela tinha algumas opções de cursos. Só prestei o vestibular porque era gratuito. Decidi entrar no curso de Secretariado Executivo Bilíngue. No segundo ano de curso troquei meu emprego de operadora de caixa por um estágio na área de secretariado.
Foram seis semestres cansativos, conciliando estágio em período integral, faculdade à noite e o trabalho voluntário todos os sábados e domingos, das 9 às 18 horas. Um ano e meio depois de formada em secretariado, consegui uma bolsa parcial com desconto de 40% e então fiz a tão sonhada faculdade de jornalismo.
Há dez anos atrás, em 2005, eu estava na metade da faculdade de secretariado e vi o nascimento do Programa Federal Universidade para Todos – Prouni, que possibilitou a entrada da minha irmã no ano que completou 18 anos, em uma faculdade particular no curso de Publicidade e Propaganda.
O ensino no Brasil é invertido. As pessoas que estudaram em escolas particulares estudam nas escolas públicas. E as pessoas que estudaram nas escolas públicas, estudam nas faculdades e universidades privadas. Claro que existem exceções, mas assim acontece com a maioria.
Eu e minha irmã com bolsas diferentes concluímos o ensino superior, coisa que nossos pais não conseguiram e nossos avós sequer cogitaram. Enfrentamos preconceitos por sermos bolsistas, pois havia um temor que os bolsistas diminuíssem os níveis de ensino das instituições, o que não aconteceu. Hoje vejo que podemos sonhar mais, alcançar mais, existem mais oportunidades, mas você tem que estudar, dar duro para conquistar sua vaga!